Reformatório Krenak: Campo de concentração indígena na ditadura militar

O Reformatório Krenak foi criado em 1969, no Município de Resplendor (MG) com a colaboração entre Polícia Militar do Estado de Minas e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Indígenas de todo país que foram considerados “rebeldes” eram mandados para o reformatório para serem reeducados. Eram considerados rebeldes quaisquer indígenas que não cumprissem quaisquer ordens de uma autoridade policial, mesmo um desacato ou alcoolismo poderiam levar ao campo de concentração.

Foto de indígenas colocados à força no Reformatório Krenak

Muitos foram mandados para o reformatório por estarem em regiões de interesse do agronegócio, que matava e expropriava os indígenas com a colaboração do Estado brasileiro. Aqueles que não saiam de suas terras eram considerados subversivos por violarem os princípios de integração nacional, o discurso que mais legitimou extermínio de indígenas e camponeses na Ditadura Militar. O Reformatório se baseava em trabalho escravo e aculturação forçada dos indígenas, que não podiam falar suas línguas, usar indumentárias e tinham seus costumes reprimidos. Os relatos de torturas, estupros e todos os tipos de violências abjetas são fartos. Os fugitivos eram caçados a recompensa, e quando pegos torturados e em alguns casos assassinados.

Ailton Krenak, um dos mais maiores pensadores brasileiros vivos, é da etnia krenak

Em 1970 é criada a aberração chamada Guarda Rural Indígena, que cooptava jovens indígenas para reprimir as suas próprias etnias e outras espalhadas pelo país. A Guarda materializava o processo de destruição dos hábitos e a hierarquia nas tribos indígenas, e ficava responsável diretamente sobre o Reformatório Krenak e sob comando da Polícia Militar do Estado de Minas. É importante frisar que muitos indígenas chamados a Guarda Rural Indígena aceitavam o “convite” com medo da repressão brutal.

O Reformatório leva o nome do povo krenak, que apesar do genocídio, habita ainda hoje a região. Foi fechado em 1972 por conflitos de terra e o povo krenak foi declarado extinto oficialmente, dado o tamanho da repressão contra o mesmo.

A Ditadura Militar aprofundou ainda mais o processo de longa duração de genocídio dos povos originários brasileiros, mais de oito mil indígenas foram assassinados no período. Os indígenas eram considerados inferiores e incivilizados, uma ameaça à segurança e integração nacionais. Hoje os krenak resistem às investidas das mineradoras em Minas, que se usam das mesmas táticas assassinas da Ditadura.


Referências Bibliográficas

CORRÊA, José Gabriel Silveira. A ordem a se preservar: a gestão dos índios e o Reformatório Agrícola Indígena Krenak. Dissertação de mestrado em Antropologia Social. Rio de Janeiro, PPGAS/MN/UFRJ, 2000.

VALENTE, Rubens. Os fuzis e as flechas: história de sangue e resistência indígena na ditadura. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. 517p. (Arquivos da repressão no Brasil)


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