As Escolas Modernas surgiram inicialmente na Catalunha e foram implantadas no Brasil logo no começo do século XX, inspiradas nos ideais anarquistas. Sua proposta pedagógica era voltada para a população marginalizada, principalmente os operários. Foram muitas escolas criadas nesse período. Como exemplo, na cidade de São Paulo tinha a Escola Nova, fundada em 1909, situada na Av. Celso Garcia, a Escola Moderna n°1, fundada em maio de 1912, situada na Rua Saldanha Marinho, 66, a Escola Livre, fundada em 1920 pelos Operários em Fábricas de Tecidos de Petrópolis.
Os anarquistas acreditavam (e ainda acreditam) que o pilar para a emancipação é a educação. A quantidade de associações femininas e feministas multiplicaram na década de 1920 e continham caráter filantrópico, político, sufragista ou profissional. Isso apresentava uma situação nova, na qual mulheres procuravam novos caminhos para superar as condições tradicionais dentro da família, da exploração e assédio dentro das fábricas, passando a transgredir normas e condutas ditadas pela Igreja e pelo Estado. Seguindo essa mesma lógica, o Centro Feminino Jovens Idealistas, outra Escola Moderna importante desse período, estava voltado então para a educação de mulheres operárias, que viviam para os trabalhos domésticos e estavam submetidas às explorações dos trabalhos de produção massiva nas fábricas. Muitas dessas mulheres não sabiam ler e escrever, já que a alfabetização ainda era inacessível para uma grande parcela da população, principalmente à classe operária.
A fundação do Centro Feminino Jovens Idealistas se deu possivelmente em 1913, com base na publicação do jornal A Lanterna, do dia 5 de julho de 1913. E as responsáveis por sua criação foram as irmãs Soares – Maria Angelina Soares, Maria Antônia Soares, Matilde Soares e Pilar Soares – irmãs de Florentino de Carvalho, principal influência delas ao anarquismo. O principal veículo de divulgação do grupo e dos encontros eram através de jornais anarquistas como A Lanterna, A Plebe, Voz do Povo e o Grito Operário.
Própria da ideologia anarquista, a educação é a chave para a emancipação, a libertação das correntes geradas por uma sociedade opressora. Voltada para uma população mais pobre, o fornecimento dessa educação era gratuita, pois o ideal era a troca e construção do livre pensamento e senso crítico para esse meio social que menos alcançava os estudos. Claramente estavam preocupadas também em conseguir dinheiro para sustentar todas essas ideias, então arrecadavam dinheiro através das conferências e festivais que anunciavam. Além de levantar fundos para essas escolas e bibliotecas, a ideia também era de criar um ambiente descontraído e festivo. Prestavam apoio e se manifestação contra qualquer repressão à classe operária.
Nos jornais haviam inúmeros tipos de declarações, não só denúncias das explorações nas fábricas e as péssimas condições de trabalho, mas da violência policial com esses trabalhadores. Houve um número alto e recorrente de vítimas dessa violência, sendo alguns até assassinados, como no caso do sapateiro José Martinez, que se tornou o estopim para a Greve de 1917. Os jornais anarquistas sempre manifestavam repúdio a essas atrocidades.
Suas reuniões e demais atividades eram sempre realizadas na rua da Moóca, onde os anarquistas atuavam ativamente em suas causas. Neste momento, o Estado de São Paulo ainda possui muitas áreas rurais com predominância de trabalhadores. E o crescimento industrial acelerou o aglomerado da classe trabalhadora nesses locais, ocasionando no avanço urbano. Havia uma clara distinção entre os bairros operários – Barra Funda, Bom Retiro, Água Branca, Moóca – e as regiões de moradia – Higienópolis. Nos bairros operários foram criados os grupos e ligas dos operários para fortalecê-los nos movimentos emancipatórios, com a propagação das ideias socialistas e anarquistas e para as concentrações para manifestações favoráveis a greve. No caso da Mooca, por exemplo, foi criada a Liga Operária da Mooca, e o próprio Centro Feminino Jovens Idealistas dispunham a sua sede neste bairro.
Centro Feminino se enquadravam em um determinado grupo: de mulheres operárias/familiares de operários. Os seus diferentes anúncios comprovam o reconhecimento das divisões desiguais entre homens e mulheres e que elas, unindo forças através da educação, podem chegar na libertação, essa que é abolição de classe e do Estado. Elas reforçam sua identidade, como mulheres anarquistas em prol da classe operária, pela luta do bem estar comum. Como Joan Scott cita Mackinnon “as mulheres são levadas a compreender a sua identidade comum e são levadas para a ação política”
Na imagem: Trecho do jornal “A Lanterna” de julho de 1917

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