Salamandras

A serpente que consome o fogo


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O bestiário medieval é recheado de monstros e bestas, sejam elas imaginárias sejam elas reais, que traduzem a moralidade da época em imagens, narrativas, enfim, em representações textuais. Como já vimos no Medievalíssimo Drops sobre Dragões, você pode escutar esse episódio clicando aqui, os medievais conseguiam observar a natureza e dessa retirar uma imagem moralizante e significante.

Os medievais não entendiam como nós entendemos os animais, isso precisa ficar claro, inclusive a própria ciência medieval era algo completamente diferente da nossa. Por isso que esse tipo de interpretação faz tanto sentido, ainda mais se adicionarmos à essa equação o tom moralista do cristianismo.

Miniatura descrevendo a salamandra segundo Isidoro de Sevilha retirada do Bestiário de Ann Walsh, depositado na Kongelige Bibliotek, Copenhagen, Dinamarca, Gl. kgl. S. 1633 4º, Folio 55v

Com a salamandra, anfíbio hoje em dia conhecido como os urodelos, e organizado na ordem Urodela, que se espalha por diversas regiões do hemisfério norte e da América Central, além do norte da América do Sul, esse tipo de significação não escapa. No tempo presente a salamandra medieval é a designação para todos os anfíbios caudados.

Segundo Plínio, o Velho, em sua História Natural, a salamandra tem a forma de um lagarto e tem seu corpo coberto de pequenas manchas, além de secretar um líquido leitoso de sua boca que em contato com a pele humana faz com que todos os cabelos do corpo caiam, a pele mude de cor e apresente erupções. Segundo ele, os pequenos anfíbios só apareceriam depois que chovesse e desapareciam após um dia de sol. Beber água ou vinho se uma salamandra tivesse morrido neles seria fatal. Assim como beber de uma vasilha onde ela tivesse bebido.

Já segundo Agostinho de Hipona no capítulo quatro do livro 21 do seu Cidade de Deus

“Se a salamandra vive no fogo, como registraram os naturalistas, este é um exemplo suficientemente convincente de que tudo o que queima não se consome, como as almas no inferno não o são.”

Ilustração sobre a relação entre a salamandra e a alquimia presente no livro The Story of Alchemy and the Beginnings of Chemistry, de M. M. Pattison Muir

O relato de Isidoro de Sevilha em suas Etimologias, no livro 12, diz assim:

“Só a salamandra dos animais apaga o fogo; pode viver no fogo sem dor e sem se queimar. De todos os animais peçonhentos, sua força é a maior, porque mata muitos de uma vez. Se ele rastejar para dentro de uma árvore, envenena todas as frutas, e quem comer delas morrerá; se cair em um poço, envenena a água para que morra qualquer um que o beba.”

Percebemos com esses relatos que há dois elementos bem ligados com a salamandra: o fogo e a peçonha, o veneno. O primeiro elemento vai levar autores cristãos a aproximarem o nosso anfíbio a figura bíblica de Daniel, que sobreviveu depois de ser jogado em uma fornalha ardente por se recusar a se ajoelhar perante uma estátua dourada de Nabucodonosor. Ou seja, tanto Daniel quanto a salamandra suportam o fogo e por isso representariam os justos.

Ilustração atribuída (erroneamente) a Paracelso mostrando o papo associado à figura do papa

Já os alquimistas e “heréticos” – sempre lembrando que usamos aqui a nomenclatura da época – a peçonha da salamandra associada a figura papal, como uma ilustração atribuída a Paracelso, nos mostra a visão perniciosa que alguns críticos faziam  da Igreja e do papado.

A descrição medieval da salamandra também poderia variar muito, indo desde aquela que fazemos hoje, como nos mostra o relato de Plínio, o Velho, como a de uma uma criatura parecida com um sátiro em uma banheira de madeira, datada do século 8, ou um verme penetrando as chamas, datado do século 12, e ainda do século 13 temos um cachorro alado e um pequeno pássaro em chamas.



Contato: medievalissimo@gmail.com

  • Texto: Bruno Rosa
  • Edição de Áudio: Bruno Rosa
  • Capa: Bruno Rosa

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