As Cidades Imperiais Livres
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Um dos principais historiadores da cidade medieval foi o belga Henri Pirenne, para quem as cidades medievais representariam um movimento antifeudal, anticlerical, o berço da burguesia revolucionária de 1789. O francês Jacques Heers no capítulo IX de seu História Medieval, volume de 1968 que tinha como objetivo revisar o período, nos mostra como essa ideia é equivocada, seja se abordada do ponto de vista político, econômico e social. O movimento comunal nada teve de burguês, nada teve de democrático e nada teve de protorrevolucionário.

Além dessa visão anacrônica, um outro recorte que se faz sobre o período é o fato de ter existido um “renascimento urbano e comercial” entre os séculos IX e XII. Esse recorte dá uma ideia de que tanto a cidade quanto o comércio deixaram de existir durante um período para ressurgir triunfante logo depois. Além de Heers outro historiador que nos mostra o quão equívoca é essa visão é Georges Duby, principalmente em seu Guerreiros e Camponeses, onde o francês faz uma história econômica do mesmo período e nos mostra que o comércio já estava consolidado e em crescimento no período, porém não havia nunca desaparecido na Europa ocidental.
Se colocarmos todos os renascimentos supostos pelo qual o Ocidente Medieval passou de fato teremos o “rosário de renascimentos” como tão bem apregoou Jacques Le Goff…

Apesar de estar situada cronologicamente na Baixa Idade Média, ou como eu gosto de chamar, no Terceiro Ato Medieval, a Liga Hanseática é um exemplo de como esses interesses urbanos e comerciais ocorriam durante esse período da história europeia. Formada a partir da união estratégica entre Hamburgo e Lübeck, o que viria a ser conhecida como Hansa Teutônica, a Liga Hanseática foi uma união que em seu apogeu teve cerca de 90 cidades associadas praticando uma espécie de livre comércio e aliança militar.
Em Alto Alemão Antigo “hanse” significa bando, tropa, e designava algo como uma caravana de mercadores. Em Médio Baixo Alemão a palavra “hansa” passou a significar associação ou guilda de mercadores.
Além da Hansa Teutônica outra origem para a Liga foi a Hansa da Gotlândia, região ao norte da Alemanha, perto da fronteira com a Dinamarca, que uniu diversas cidades a partir que Henrique, o Leão, fundador de Munique, e duque da Baviera e da Saxônia, ter recapturado a cidade Lübeck, e basicamente refundado a mesma, do conde Adolfo II de Schauenburg e Holstein.
As cidades hanseáticas mantinham sua independência política e administrativa, porém compartilhavam algumas características como o uso do Baixo Alemão Médio como língua franca, as mesmas unidades de pesos e medidas, uma espécie de união alfandegária e livre câmbio. Ser uma cidade hanseática também era ser uma cidade livre imperial, ou em alemão Freie Reichsstadt, ou seja, uma cidade que ganha independência administrativa do imperador porém mantém-se aliada e fiel às águias imperiais. Na prática isso garantia aos comerciantes e às guildas controle da cidade, afastando da urbe a aristocracia rural e feudal.

Durante seu auge, no século XIV, a Liga Hanseática contou com mais de 90 cidades aliadas, indo desde a Vestfália até as cidade bálticas, passando pelo Rus de Kiev e Novgorod, além de estabelecer relações comerciais com os reinos escandinavos, com a Inglaterra, os Países Baixos, a França e o Sacro-Império Romano Germânico.

A Liga entra em decadência a partir do século XV, principalmente com a crise econômica que assola a Europa. Porém a centralização dos reinos da Prússia, da Polônia e a formação do Império da Suécia se apresentam como obstáculos para o desenvolvimento do espírito independentista da Hansa, que acaba oficialmente em 1862, porém desde o 1669 ela já havia perdido a sua capacidade de congregar e mobilizar cidades pelo norte europeu. É preciso lembrar que o final da Liga Hanseática coincide com o florescimento de uma nova burguesia mercantil, que se aliando aos monarcas irá formatar os chamados estados nacionais modernos.
O espírito hanseático entretanto ainda persiste, algumas cidades alemãs ainda são chamadas “cidade hanseática livre”, como é o caso de Lübeck, Hamburgo, Rostock e Bremen. Hoje há duas organizações políticas que levam o nome de Hansa: em 1982 em Zwolle foi formada a Liga das Cidades a Hansa, uma tentativa de reestabelecer rotas e trocas comerciais fomentar o turismo e as trocas culturais, atualmente conta com 182 cidades da Alemanha, Inglaterra, Rússia, entre outros países. Em 2018 ministros das áreas econômicas de Dinamarca, Estônia, Finlândia, Irlanda, Letônia, Lituânia, Holanda e Suécia assinaram um documento estabelecendo a Nova Liga Hanseática, que estabelece um compartilhamento de visões e valores sobre a arquitetura monetária da zona do euro.

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adorei muito bom, bem objetivo e claro.
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