Cidade Celta Engolida pelo Mar
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As regiões que compõem o atual território francês sempre foram marcadas por histórias lendárias. A Bretanha, em especial, serviu de palco para uma série de narrativas desse gênero. Localizada no noroeste da França, na região conhecida como Armórica, era um território independente até o século X. Posteriormente, foi incorporada ao reino francês, tornando-se um importante ducado. A região, juntamente com a Cornualha e Gales, passou a ser refúgio para os povos celtas que foram obrigados a deixar a Ilha da Grã-Bretanha devido às invasões anglo-saxãs.

Ys foi uma esplêndida cidade construída é governada pelo rei Gradlon durante o século VI. Ela se localizava na baía de Douarnenez, a “baía dos mortos”, em uma região inundável durante a maré alta. Para protegê-la, foi construído um grande dique. Suas comportas eram acionadas por uma chave a qual apenas o rei tinha acesso. Uma das versões da história conta que todos ali viviam em paz e tranquilidade até que a filha de Gradlon começasse a degradar a cidade com sua dissolução.
Por essa época, um homem santo chamado Gwenolé, advertiu o soberano que os excessos da princesa Dahud iria causar a destruição da cidade, o que de fato ocorreu. Atraído pelo comportamento pecaminoso, o diabo, disfarçado de cavaleiro, depois de conquistar Dahud, instigou-a a roubar a chave do pai e abrir as comportas. A água do mar imediatamente invadiu as ruas e as casas da cidade enquanto as pessoas dormiam. O único a acordar antes de Ys ser completamente submersa foi o rei com o auxílio do monge.
Durante a fuga, o cavalo do monarca tornava-se cada vez mais lento e estava muito próximo de ser engolido pelas ondas. O monge, que ia à frente em outra montaria, disse que aquilo estava acontecendo porque ele levava a filha consigo e que a única forma de se salvar, era deixando a princesa para trás. O rei exitou mas quando Gwenolé renovou o apelo, foi obedecido e imediatamente o cavalo de Gradlon saiu em disparada. Toda Ys estava sendo submersa pelo mar enquanto ambos atingiam terra firme. A lenda conta ainda que após cair nas águas, Dahud se transformou em sereia e que seu pai tornou Quimper sua nova capital. Dizem que, em dias de mar está calmo, ainda é possível ouvir o ressoar dos sinos da igreja de Ys…

Interessante como a narrativa se assemelha com outras cidades que tiveram os mesmos destino devido aos erros cometidos por seus cidadãos. Sem sombra de dúvida, a mais famosa delas é a mítica Atlântida. Sua população também teria sido destruída pelo mar após atrair a ira dos deuses olimpianos. No caso de Ys, foi a corrupção trazida pelo comportamento da princesa, que atraiu o mal. A população, por fechar os olhos para tal fato, também contribuiu para o destino da cidade. Deus, por meio do figura do monge, permitiu ao rei que ele vivesse para se arrepender e tornar-se virtuoso.
É uma moral completamente alinhada à mentalidade da época que via o pecado da carne muito associado à figura feminina. Essa é uma questão muito abordada em vários documentos medievais que estabelecem regras de comportamento para elas. A mulher, sendo descendente direta de Eva – a figura bíblica que foi responsabilizada pelo pecado original e a subsequente expulsão do paraíso – deveria ser constantemente vigiada e contida, uma vez que o gênero feminino era mais frágil e maleável, sendo bastante suscetível a ser influenciado pelo mal. Por isso a necessidade de se manter a mulher sobre a tutela do pai ou marido. O imaginário medieval só começaria a modificar sua visão a respeito do feminino quando, já na Baixa Idade Média, o culto Mariano resgatasse e redimisse as mulheres.

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