Uma visão da História por meio da pintura de Ambrogio Lorenzetti
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Para o melhor entendimento da Ciência Histórica, pedagogicamente ela foi dividida em períodos que possuem marcos que indicam seu começo e fim. Seguindo esse conceito, sabemos que a Idade Média foi substituída pela Idade Moderna quando em 1453, ocorreu a queda do Império Romano do Oriente. Assim, ao pensar na ideia de Renascimento, automaticamente vislumbra-se um momento de grande transformação cultural, científica, filosófica, ou seja, esse representaria uma quebra de paradigma, substituindo valores anteriores por novos. Academicamente, no entanto, fica claro que não existe esse tipo de ruptura. O que existe na verdade, são processos que possuem maior ou menor duração e, portanto, estão intrinsecamente interligados.
A obra de Ambrogio Lorenzetti revela um bom exemplo. Nascido no final do século XIII, foi um pintor italiano que desenvolveu seu trabalho principalmente entre os anos de 1317 e 1348. Apesar de viver cronologicamente no período medieval, ele é considerado um dos grandes artistas trecentistas, ou seja, sua arte é considerada renascentista. Isso se deve à utilização de técnicas que serão amplamente desenvolvidas e divulgadas nos séculos seguintes associadas diretamente ao primeiro movimento artístico da Idade Moderna.

Apesar de seus afrescos realmente buscarem a simetria e proporção, o tema de suas pinturas ainda demonstrava uma visão bastante medieval. Uma de suas maiores obras foi a composição realizada nas paredes do Salão dos Nove ou Salão da Paz, situada no Palazzo Pubblico de Siena. Por meio de alegorias, Lorenzetti representa o Bom e o Mau Governo com conceitos bastante medievais, demonstrando que sua mentalidade era de um homem do seu tempo, uma vez que as ideias que ali aparecem, estão associadas ao florescimento e crescente aumento da presença dos burgos nesse mundo medieval.
O afresco apresenta seis cenas, posteriormente intituladas como Alegoria de Bom Governo; Efeitos do Bom Governo na Cidade; e Efeitos do Bom Governo no País; Alegoria de Mau Governo; Efeitos do Mau Governo na Cidade; Efeitos do Mau Governo no País. O conjunto das três primeiras compõe a noção de uma cidade onde as virtudes são soberanas. Administrada pela Justiça conjuntamente com a personificação da Comuna de Siena – representada por um homem com as cores locais, segurando um cetro e um orbe, que simbolizam seu poder temporal – nesse burgo as personificações da Paz, da Fortitude, da Prudência, da Magnanimidade e da Temperança, bem como das Três Virtudes Teologais – Fé, Caridade e Esperança – estão ali personificadas por belas mulheres. Como resultado de tal governo, a zona urbana florece em riqueza, tranquilidade e organização. As pessoas prosperam e são felizes pois também seguem normas de condutadas virtuosas.

Já na Alegoria do Mau Governo quem administra a cidade é a Tirania que é representada pelo pintor de forma animalesca, com chifres e presas. Ao seu redor estão simbolizados os vícios por meio das figuras que representam a Crueldade, o Engano, a Fraude, a Fúria e a Guerra, enquanto aos seus pés está a Justiça cativa e a sua cabeça vemos a Avareza, o Orgulho e a Vanglória, considerados os principais inimigos da vida humana. Como consequência, o burgo é um lugar decadente, vazio, onde a miséria e o medo reinam. Seus cidadãos não se importam com o bem comum, pois estão tentando sobrevier. Ali, o conflito e a violência estão sempre presentes.
Podemos ver dessa forma, que apesar de utilizar técnicas inovadoras muito presentes no “Renascimento Artísticos Moderno”, a concepção ideológica da obra ainda estava bastante voltada para uma mentalidade medieval. Isso acontece porque não existem rupturas imediatas. O que há na realidade é uma lenta transformação na mentalidade e no modo de fazer. O novo tem suas bases fixas no antigo e assim, o Renascimento é filho dos conceitos e visões medievais e como tal, traz consigo tanto características inovadoras quanto tradicionais.

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