X-Men: Noire (Volume 1) (Fred Van Lente e Dennis Calero) | Clio Indica

Decadência e desilusão como estética para os mutantes de Xavier

Marvel Noir: X-Men, série publicada entre 2009 e 2010 pela Casa das Ideias, é uma releitura dos clássicos personagens criados por Stan Lee e Jack Kirby. Essa releitura se dá a partir do ponto de vista do estilo noir, com fortes influências das chamadas pulp fictions. Para quem não está familiarizado com os termos, noir é um estilo de arte, muito influente no cinema e na literatura, muito em voga durante as décadas de 1920 e 1930, principalmente nos EUA. A temática noir, que significa escuro em francês, sempre se dá a partir do ponto de vista do obscuro, do amargo, do inesperado, do suspense.

No cinema, as películas desse estilo sempre tinham, em sua maioria, uma história detetivesca, com personagens atormentados psicologicamente, abusando do jogo de luz e sombras, com uma moral dúbia, etc. Filmes como O Falcão Maltês, entre outros, são a epígrafe do estilo, que surge como uma resposta dos artistas em busca de uma realidade artística em contrapartida aos musicais, geralmente comédias, e dramalhões que Hollywood produzia no período. É bom ressaltar que nesse período a América vivia a época da Grande Depressão, onde o sonho americano, o American Way of Life, parecia ter se tornado um verdadeiro pesadelo.

Mary Astor e Humphrey Bogart em cena do longa O Falcão Maltês

A série Marvel Noir tenta trazer seus personagens impregnados com essa estética. Personagens como Demolidor, Justiceiro e os X-Men parecem escolhas óbvias para a série, afinal em seu âmago esses personagens trazem grandes conflitos psicológicos e um afastamento do mundo ideal da ficção.

Marvel Noir: X-Men é, sem dúvida alguma, o grande canto do cisne da série. Com pena de Dennis Calero (responsável por ilustrações de Forgotten Realms e Magic: The Gathering) e com roteiro de Fred Van Lente (conhecido por seu trabalho em Marvels Zombies, Cowboys & Aliens e The Incredible Hercules), a graphic novel se passa em 1937, em uma Nova York decadente, dominada pelo crime e pela corrupção, onde um grupo liderado por Charles Xavier se rebela contra o status-quo em busca de sobrevivência e justiça. Até ai, nada de mais certo?

Cena da graphic novel X-Men: Noir

A grande sacada de Van Lente foi ter, surpreendentemente, tirado o fator mutante dos X-Men e todo e qualquer superpoder dos personagens envolvidos. Aqui, Cíclope não solta raios pelos olhos, Wolverine não tem fator de cura e Jean Grey não consegue manipular e ler a mente dos outros. Mas mesmo assim, todos os conflitos clássicos dos alunos do Professor X estão presentes.

Van Lente e Calero, em um trabalho realmente inspirado, fazem uma leitura realista desses personagens. De um lado, os sociopatas (mutantes) e do outro, as “pessoas de bem” (humanos), os primeiros segundo Charles Xavier, visto como um psiquiatra, representariam a evolução do comportamento humano, pois eles não estão presos à lei e à ordem, e assim sendo, estão muito mais perto do estado natural da humanidade, numa clara alusão ao conceito de übermensch de Friedrich Nietzsche.

As ilustrações, a (re)construção dos personagens, e as ilustrações, impregnadas da estética noir clássica, fazem de Marvel Noir: X-Men um título quase que obrigatório na leitura de qualquer fã de uma boa história em quadrinhos.


Ficha Técnica

Nome: X-Men: Noir (Volume 1)
Argumento: Fred Van Lente
Desenho: Dennis Calero
Editora: Panini
Páginas: 108

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