31 de Março de 2021: 57 anos do Golpe Civil–Militar de 1964



Ressentidos com as investigações da Comissão da Verdade no Governo Dilma e amplificados a partir da crise de hegemonia lulista a partir de 2013, setores da direita brasileira perderam a vergonha e passaram a exaltar a memória da terrível e brutal Ditadura Civil – Militar que comandou nosso país entre 1964 e 1985. Diante de uma democracia que vacilou em muitas importantes questões colocadas com a Redemocratização, estes setores exaltam, louvam o regime ditatorial justificando tão infame ação política em alguns pontos: o apoio massivo ao Golpe, o combate ao comunismo, os resultados do regime no campo da economia e no combate à corrupção nestes 21 anos. Este texto além de um libelo a liberdade e a democracia pretende criticar e refutar estas ideias.

Um dos argumentos utilizados é a ideia de que os militares realizaram uma revolução com amplo apoio da sociedade. Rasgando a Constituição de 1946, os militares promoveram um Golpe de Estado clássico com o apoio de setores da classe média e principalmente dos empresários brasileiros. As Marchas da Família foram importantes para o desfecho do governo de Jango, mas devemos pesar a importância e amplitude desses movimentos para o Golpe. Pesquisas do IBOPE mostravam que as Reformas de Base, principal pauta de Jango, eram apoiadas pela maioria da população das principais cidades do Brasil, nos levando a pensar que esse apoio é limitado, tão limitado que parte importante dos historiadores preferem falar de uma “Ditadura Empresarial-Militar”, dado ao fato que a base do regime estava fundamentalmente na burguesia e nas Forças Armadas.

O Brasil ia virar uma nova Cuba” assim bradam direitistas em defesa da Ditadura. Com toda segurança podemos dizer que em nenhum momento o Brasil esteve à porta de uma revolução comunista. Exaltados por um discurso anticomunista que se espalhou pela sociedade brasileira depois do Levante de 1935 e principalmente pelos discursos anticomunistas da Guerra Fria, os militares foram mobilizados para conter os avanços do governo reformista de João Goulart, principalmente a preservação do domínio da grande propriedade no campo. Governo que em momento nenhum pregou uma derrubada do capitalismo no Brasil.  Este discurso ainda repercute na atualidade nas hostes da direita brasileira para justificar ações antipopulares.

Outro aspecto da nossa história mobilizado é o crescimento da economia brasileira durante o “Milagre Econômico”. De fato, a acumulação capitalista teve um grande crescimento durante a Ditadura principalmente entre 1968 e 1973, momento no qual a economia crescia 10% ao ano. Este notável crescimento trouxe a reboque um endividamento externo que comprometeu o país por pelo menos duas décadas, a exploração predatória da mão de obra e do meio ambiente, via arrocho salarial, altos índices de acidente de trabalho e destruição maciça de biomas, e explosão das desigualdades sociais. Ou seja, os resultados do avanço capitalista ficaram nas mãos da burguesia nacional e internacional, declinaram a partir da Crise de 1973.

Depois da Operação Lava Jato outro aspecto passou a aparecer com força nos discursos da direita defensora da Ditadura, o combate à corrupção. O combate à corrupção foi um dos fatores que os militares usaram para derrubar o governo de Jango. Além disso, ao contrário do que preconiza, a corrupção brasileira não foi menor durante o período. Fruto do patrimonialismo, da confusão entre público e privado endêmica da administração brasileira, parte importante dos recursos do Estado foram drenados por grandes esquemas de corrupção, já bastante pesquisados pela historiografia. Um exemplo dessa corrupção foi os desvios da construção da Ponte Rio-Niterói e da Rodovia Transamazônica. Algumas das empreiteiras pegas na Lava Jato ganharam porte durante a tenebrosa Ditadura Militar.

Fica claro que a defesa da Ditadura além de um crime contra nossa democracia e é também problema do ponto histórico e de memória. É evidente que estes discursos não encontram nem na história, nem na historiografia apoio, sendo nada mais do que uma tentativa farsante, como diria Marx, de repetir a história. Abaixo a ditadura!

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