A maior mobilização operária do governo Getúlio Vargas
Em março de 1953, São Paulo foi palco de um dos momentos mais importantes para a classe trabalhadora do país. Tendo início entre os industriários do setor têxtil, mas logo se estendendo para outros setores, a Greve dos 300 Mil foi uma mobilização que marcou o cenário da luta operária na década de 1950. Essa greve histórica conseguiu não só ser vitoriosa em suas reivindicações, como também ajudou a trazer um avanço importantíssimo para o movimento operário brasileiro, reorganizando o movimento sindical no país.
A greve eclodiu no final de março de 1953, mas foi no dia 18 do mesmo mês, que a mobilização teve seu marco inicial mais expressivo, a Marcha da Panela Vazia, um movimento que teve uma forte adesão popular, expressando a potência que os trabalhadores possuíam. O protesto ocorreu em São Paulo, e teve como pauta central os baixos salários pagos pelas grandes empresas, que se somando com a inflação em alta, reduzia o poder de compra dos trabalhadores ao pó. É importante pontuar, que desde sua criação em 1943, o salário mínimo só tinha aumentado uma única vez! E como já pode ser deduzido, esse aumento não consegui responder nem um pouco, ao aumento do valor custo de vida, que crescia assustadoramente no período, o que deixa mais do que claro a legitimidade da reivindicação. Na ocasião dessa mobilização, partiram da Praça da Sé, cerca de 60 mil pessoas, que marcharam em direção à sede do governo de São Paulo, o Palácio dos Campos Elíseos. No entanto, o ato terminou sendo violentamente reprimido pela polícia. O resultado? centenas de trabalhadores presos. Mas mesmo assim, essa resposta repressiva não deu fim das mobilizações, tanto que dias depois, no dia 26 de março, foi declarada greve geral por parte dos trabalhadores das indústrias têxtil e metalúrgica.

Um detalhe importante: por mais que tenha eclodido durante o governo de Vargas, a Greve dos 300 Mil é fruto de descontentamentos que já vinham se acumulando desde o governo Dutra, que com o decreto de lei nº 9.070 de 1946 restringiu o direito à greve, além de impor uma série de mecanismos burocráticos para poder reconhecer movimentos grevistas, que mais serviram para dificultar o cumprimento dos critérios necessários para que as greves fossem consideradas legais, deixando várias mobilizações grevistas na ilegalidade, do que qualquer outra coisa. Tanto os movimentos grevistas, quanto os sindicatos, deveriam estar atrelados à estrutura do Estado, o que impossibilitava a autonomia política dos sindicatos ou de quaisquer outros instrumentos de luta. A chegada de Vargas, marcada por discursos voltados para a classe trabalhadora, trouxe promessas e expectativas, que não se concretizaram, como uma maior liberdade de organização sindical, por exemplo. Isso gerou ainda mais frustrações e descontentamentos no seio do operariado.
Os trabalhadores estavam diante de um aparato sindical, que mais atrapalhava do que ajudava em sua organização política. Diante desse fato, e contando com o auxílio do PCB, eles passaram a se organizar em comitês nos seus locais de trabalho, a partir dos quais foi criada uma Comissão Intersindical, com funcionamento à margem do aparato sindical corporativo do Estado.
Depois de quase um mês, a greve chega ao fim, em 23 de abril do mesmo ano, após o Tribunal Regional de São Paulo apresentar a proposta de um aumento salarial de 32%, que foi aceita tanto pelo patrões quanto pelos sindicatos. No entanto, houve uma demissão em massa de trabalhadores grevistas: cerca de 400 deles perderam seus empregos, pois para os patrões, a presença deles nas fábricas representavam uma ameaça, na medida que poderiam induzir outros operários a se envolverem com greves.
Mas mesmo com esse ônus, A Greve dos 300 Mil saiu vitoriosa, no seu sentido econômico e político, primeiro porque conseguiu alcançar sua principal reivindicação, e segundo porque trouxe um avanço extremamente relevante na organização dos trabalhadores, seja fortalecendo laços e consciência de classe, fomentando reivindicações, seja formando centenas de militantes sindicalistas, que distantes do aparelho estatal, colaboraram em grande medida, para dar uma outra cara para o sindicalismo no Brasil, abrindo novas perspectivas de luta para os trabalhadores.

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