Henrique, o Leão

O fundador de Munique e um dos pais da germanidade


Você  também pode ouvir esse drops no miniplayer abaixo e nos apps de podcasts

Você também pode ouvir o episódio no Apple Podcasts, Spotify, Google Podcasts, Castbox e no Deezer. Você também pode baixar o episódio usando esse link

Assine: Apple Podcasts | Spotify | Google Podcasts | Castbox | Deezer Android | RSS


Nascido em Ravensburg em 1129, ou 1131, Henrique, o Leão, é até hoje venerado com um símbolo nacional de luta na Alemanha, sendo inclusive usado como material de propaganda pelos regimes alemães da Primeira e da Segunda Guerra Mundial.

Filho de Henrique, o Orgulhoso, duque da Baviera e da Saxônia, e de Gertrude de Süpplingenburg, membro da Dinastia de Guelfo, ou Welf em alemão, Henrique, o Leão, tem papel importante na história medieval da região sul do que hoje é a Alemanha, sendo um dos príncipes mais fortes do Sacro Império Romano-Germânico até a ascensão de Frederico Barbarossa, seu primo distante e membro da Dinastia Hohenstaufen.

Fundador de Munique, em 1157, e de Lübeck, em 1159, também fundou e desenvolveu uma série de cidades nos mares do Norte e Báltico, o que teve um impacto profundo no desenvolvimento da própria Liga Hanseática, não herdou os ducados que eram anteriormente de seu pai, afinal Henrique, o Orgulhoso, havia sido deposto por Conrado III, rei da Alemanha e da Itália, por ser um potencial rival dele pela posse da coroa. A Saxônia fora entregue para Alberto, o Urso, e a Baviera para Leopoldo da Áustria. O Leão entretanto se manteve firme e Conrado III acabou retornando a Saxônia para ele em 1142.

Em 1147 participa da Cruzada dos Vendos, parte da Segunda Cruzada ou das Cruzadas Bálticas, o que faz o seu prestígio aumentar junto com Frederico Barbarossa, recém empossado como sacro imperador. Com o prestígio veio a restauração de seu domínio na Baviera, mesmo que a Marca Oriental, um território equivalente a atual Áustria, não lhe fora devolvido.

Em 1147 ele se casa com Clemência de Zähringen, o que lhe faz herdar diversos territórios na Suábia, terra natal de Frederico, que não via com bons olhos Guelfos aumentando seu poder e território tão perto de casa. O sacro imperador faz pressão para trocar diversas fortalezas saxãs pelas terras suabas, Henrique não aceita, porém acaba por se divorciar de Clemência em 1162, supostamente cedendo à pressão de Frederico. Ele se casaria com Matilda da Inglaterra, filha de Henrique II e Eleanor de Aquitânia, além de irmão de Ricardo Coração-de-Leão.

Nesse período Henrique apoia fortemente a posição de Frederico em manter a coroa imperial, apoiando as diversas guerras do imperador contra, principalmente, os lombardos e os papas. Em 1172 ele peregrina para a Terra Santa, se encontrando com Cavaleiros Templários e Hospitalários em, Jerusalém. Ele passa a Páscoa em Bizâncio e em dezembro está de volta à Baviera, e aqui começa a separação dele com Frederico: o imperador solicita auxílio em nova campanha na Lombardia, Henrique recusa por estar consolidando suas fronteiras na porção oriental dos seus domínios, e só aceitaria se o imperador lhe cedesse a cidade imperial de Goslar. Estava plantada a semente da discórdia.

Essa segunda campanha de Frederico na Lombardia falha por completo, então o sacro-imperador resolve reagir contra O Leão: se aproveitando da hostilidade e ressentimento de diversos príncipes alemães que não aumentavam seus territórios nos domínios de Henrique, Frederico Barbarossa acusa Henrique de traição e conduz seu julgamento in absentia, ou seja, Henrique não estava presente em seu julgamento. Condenado, Henrique é despojado de todos seus títulos e terras, enfrenta uma invasão na Saxônia e a deserção de vários dos seus aliados.

Henrique, o Leão, estava acabado, derrotado e humilhado. Ou será que ainda não?

O duque se rende e enfrenta uma Dieta Imperial em Erfurt e é exilado da Alemanha e do Sacro-Império Romano Germânico. Ele parte então para a Normandia, ficando em terras de seu sogro, ficando por três ano lá. Em 1185 ele é autorizado a voltar para a Alemanha, porém em 1184 ele vai para Mainz atender à Dieta de Pentecostes, provavelmente mediando conflitos em nome de seu sogro. Em 1189 é exilado mais uma vez da Alemanha, mas então veio a Terceira Cruzada…

Frederico Barbarossa parte para a Cruzada e Henrique então resolve retornar para a Saxônia e com ajuda de um exército fiel a ele conquista a rica cidade de Bardowick, que é punida por sua traição sendo queimada, totalmente queimada, com exceção dos prédios eclesiásticos. Henrique IV, filho do Barbarossa e então sacro-imperador, consegue derrotar o duque, mas ambos conseguem encontrar a paz e em 1194 Henrique, o Leão, recebe o título de Duque de Braunschweig, menor em comparação com os títulos anteriores, porém ele se contenta e vai passar o resto de sua vida em paz e sendo um mecenas das artes e da arquitetura.

A importância de Henrique, o Leão, não pode ser mensurada, ele foi uma figura ímpar para o longo processo de unificação e identidade alemã, que somente encerraria no século XIX. O Leão de Braunschweig, ou em alemão Braunschweiger Löwe, a primeira estátua de bronze ao norte dos Alpes, é um exemplo dessa patronagem: foi encomendado por Henrique para ornar o pátio do Castelo Dankwarderode, sua residência, e logo depois ele encomendou a construção da Catedral de Braunschweig, hoje de confissão luterana. Na catedral é onde estão enterrados Henrique e sua esposa, Matilda da Inglaterra. Outro exemplo dessa patronagem do Leão foi a encomenda do chamado Evangelho de Henrique, o Leão, livro que iria ornar a abadia de São Brás em Braunschweig, considerado uma obra-prima da iluminura romanesca e hoje se encontra depositada na Biblioteca Herzog August, em Wolfenbüttel, na Baixa Saxônia.

O espírito de germanidade de Henrique também deve ser ressaltado, suas incursões no Mar do Norte e no Mar Báltico ajudaram a germanizar toda a região à oeste da Prússia e dos antigos domínios alemães. Não é à toa que os nazistas se apropriaram da figura história de Henrique, o Leão, como predecessor da Lebensraum, a política de “espaço vital”, ou seja a ideia de que uma sociedade desenvolvida precisa conquistar outra subdesenvolvida em sua vizinhança. O NSDAP também acrescentaria as questões pseudocientíficas e racistas bem típicas de sua ideologia. No contexto da Primeira Guerra Mundial sua imagem também foi utilizada como propaganda de guerra, sendo um dos diversos Nagelmänner, estátuas de madeiras utilizadas como fundos de arrecadação para a manutenção do exército alemão, onde você comprava um prego para a ajudar na construção da estátua.

Esse uso de Henrique, o Leão, como um símbolo de germanidade e de Lebensraum nos mostra como o presente pode se apropriar, na maioria absoluta das vezes erroneamente, de um a figura histórica em temporalidades afastadas e subverter para justificar o seu presente. O expansionismo e as lutas de Henrique, o Leão, devem ser lidas à luz do século XII e suas mais diversas complexidades, como a própria força que o Sacro-Império Romano Germânico exercia na região, adicionando-se assim a força dos papas e a ausência de uma identidade nacional, ou pelos menos de uma identidade nacional aos nossos termos, percebemos que esses usos têm fim muito mais ideológico e político do que histórico.



Contato: medievalissimo@gmail.com

Conheça nossa campanha de financiamento contínuo

Entre em https://www.padrim.com.br/cliopodcasts e ajude a partir de R$ 1,00 mensais a manter esse projeto no ar e produzindo cada vez mais conteúdo acessível para todas e todos.

Você também pode nos financiar via PicPay! Se você tem um cashback sobre então porque não apoiar um projeto de comunicação e educação histórica.

Procura a gente lá em https://app.picpay.com/user/cliohistoriaeliteratura

Siga o Clio nas Redes Sociais!

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.