O SÁBIO DA VILA

05 de Janeiro de 1932

Em 2015, o aniversariante do dia de hoje, Umberto Eco (1932-2016), ao receber o título de Doutor honoris causa em Comunicação e Cultura, na Universidade de Turim, criticou a relevância que as redes sociais deram ao que ele chamou “idiota da aldeia“. Mais do que isto, ele declarou com desgosto que “normalmente, eles (os idiotas da aldeia) eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel”.

À primeira vista, estas palavras podem soar academicistas ou mesmo arrogantes. “Como assim a minha palavra vale menos que a de outros, sendo ele quem for?“, “Quem é fulano ou beltrano para dizer sobre o que posso dar ou não a minha opinião?” Tem-se que, no entanto, entender que para o autor de O nome da Rosa (1980) o problema não é a possibilidade de qualquer um expressar suas certezas. O problema é o peso dado às palavras de qualquer um. Não olhe para o palco. Olhe para a plateia. É ali que está o problema.

Vivemos um tempo em que bastar abrir blog ou criar uma conta em uma rede social para qualquer um ter a própria plateia. Não é preciso preparação ou estudo. Nem reflexão ou debruçar-se sobre a questão a se opinar. O que todos têm é pressa. Pressa em falar à respeito de qualquer coisa. Pressa em ser ouvido. Pressa em ser notado. Pois quem torna-se notável passa à categoria de influencer. E o influencer muitas vezes, trabalha mais com os afetos e ultrajes do que com a construção de um diálogo. Poucos querem ouvir. Muitos querem falar. Não a toa, alguns deles se recusam a denominar-se como tal. Preferem ser chamados de comunicadores, de educadores.

A tempos lê-se, ouve-se e vê-se os maiores absurdos vindos de todos os lados, até mesmo da chefia do Poder Executivo. Deve-se ter ciência que se aquela pessoa passou a ser ouvida é porque conquistou uma plateia. E isto torna tudo mais difícil pois mesmo que o idiota da aldeia suma, os que lhe deram ouvidos e legitimaram sua fala, estarão lá a espera do próximo cretino a lhes representar.

Na imagem, Umberto Eco em foto de 1984.

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