Peludinhos medievais!
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Sobre os gatos, Isidoro de Sevilha, no século 7, escreveu o seguinte em suas Etimologias:
O gato (musio) tem esse nome porque ataca o rato (mus). Alguns dizem que seu nome é cattus, de captura; outros que é cattat (vê) porque vê tão nitidamente que supera a escuridão.
Bartolomeu Angélico escreveu no livro 18 do seu De proprietatibus rerum o seguinte:
Ele é um animal totalmente lascivo na juventude, rápido, flexível e alegre, e salta e se precipita sobre tudo o que está à sua frente; e é conduzido por uma palha e brinca com ela; e é uma besta pesada e pesada em idade e totalmente sonolenta , e astutamente está à espreita de ratos; e sabe onde eles estão mais pelo cheiro do que pela vista, e caça e se precipita sobre eles em lugares privados; e quando ele apanha um rato, brinca com ele, e o come depois da brincadeira. Em tempos de amor luta bravamente pelas esposas, e um arranha e despedaça o outro dolorosamente com mordidas e garras. E ele faz barulho implacável e terrível, quando um se oferece para pelejar com outro; e não é ferido quando é lançado de um alto. E quando ele tem pele clara, ele se orgulha dela e anda veloz; e quando sua pele se queima, então ele mora em casa; e muitas vezes é por sua pele clara, tirada pelo esfolador, é morto e esfolado.
Apesar dessas descrições bem positivas, os gatos durante o período medieval não possuam a melhor das famas: os felinos eram diretamente associados à heresia, ao satanismo e à feitiçaria. Principalmente os gatos negros. No século XIII, por exemplo, eles já não gozavam mais da fama positiva que já haviam tido por conta de uma suposta associação deles com o tratamento de vermes.

O gato durante o período medieval foi associado a Satanás principalmente por conta da Igreja medieval querer demonizar os ritos, crenças e valores pagãos. E gatos eram tido como seres superiores em diversas culturas pelo mundo, principalmente na Índia, na China e no Egito antigos.
Por conta dessa associação satânica não era incomum gatos serem torturados e mortos para espantar má sorte, ou para mostrar devoção a Cristo e ainda como parte dos rituais de ailuromancia, ou seja, a pretensa adivinhação do futuro observando determinados comportamentos dos gatos. Por esses motivos esses pequenos felinos eram massacrados por vilas inteiras e condenados pelos papas.
Uma dessas condenações foi perpetrada por Gregório IX na bula Vox in Rama, onde o sumo pontífice denunciava os gatos como seres diabólicos e condenava a ailuromancia. Aliás essa bula levou o inquisidor Conrado de Marburgo a acusar Henrique II, conde de Sayn, de tomar parte de tais rituais. Henrique conseguiu provar sua inocência em um tribunal e Conrado acabou sendo misteriosamente assassinado logo depois…
Apesar da bula não ter circulado muito e por não ter sido muito lida, evidências essas que obtemos pelo contexto da época, a posição da Igreja acabou sendo absorvida pelos populares principalmente através dos sermões dominicais, pelas conversas entre o clero e o rebanho, e através da orientação dos membros mais altos da hierarquia eclesiástica para os de mais baixa posição. Portanto o impacto da Vox in Rama só pode ser sentida indiretamente.
Todavia uma parte da bula nos chama a atenção: o fato de que mulheres, principalmente idosas, são mais sucintas a sofrer acusações de bruxaria por causa de seus gatos, como bem aponta a estudiosa Virginia C. Holmgren no seu Cats in Fact and Folklore, sem tradução para o português.

Entre os medievais que possuíam gatos como animais domésticos salta aos olhos o exemplo de lady Leonor de Montfort, princesa de Gales, que possuía gatos para controle da peste e outras doenças, e que sendo poderosa o suficiente para negociar a rendição do Castelo de Dover em 1216 conseguiu escapar de qualquer acusação de feitiçaria, diferentemente de 80% dos acusados de feitiçaria, que eram mulheres, a sua maioria idosas, quase sempre condenadas à morte por afogamento junto de seu gato.
Tanto na Idade Média quanto no tempo presente os gatos sofreram com uma imagem construída baseada na ignorância e no preconceito. Gatos não trazem má sorte, não são sujos, não são interesseiros. Gatos são bichinhos extremamente amáveis, inteligentes e carinhosos, que sempre nos fazem companhia e nos dão amor. Já passou do tempo de tratarmos essas adoráveis criaturas com ódio, medo ou desconfiança.
E o mais importante: se você quiser ter um animal de estimação, como um gato ou um cachorro, por favor, não compre, adote. Há milhares de animais em ONGs e clínicas veterinárias precisando de um lar agora. Quem sabe esse lar não pode ser o seu?

Esse Medievalíssimo Drops é em homenagem a gatinha Elis Valente, que foi resgatada de uma casa em São Paulo, sofreu um acidente e hoje corre o risco de ficar paraplégica e precisa da sua ajuda. Aqui embaixo tem um link da Vakinha que suas tutoras estão arrecadando para poder proteger e acolher a Elis. Se você tem condições, por favor, participe!
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