Gilles de Rais

Marechal da França e Ocultista

Dois temas fascinam o público consumidor de cultura pop: serial killers e supostos envolvimentos com o demônio. Nossa personagem desse Drops consegue abraçar esses dois temas…


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Gilles de Rais nasceu em setembro de 1405, na região do Anjou oeste da França, que havia se reunificado com a coroa francesa um pouco menos de 70 anos, vindo de uma família nobre. Segundo relatos foi uma criança prodígio, e aos setes era fluente em latim, iluminava manuscritos e dividia sua educação entre o desenvolvimento intelectual e moral com a disciplina militar.

Óleo sobre tela Gilles de Laval, sire de Rais, compagnon de Jeanne d’Arc, Maréchal de France (1404-1440), Éloi Firmin Féron (1835), Château de Versailles, Versailles, França

Ele e o irmão, René de La Suze, entretanto ficam órfãos de pai e mãe e são colocados sobre a tutela do avô materno, Jean de Craon, homem de fama não muito boa, que tentou casar o neto mais velho, então 12 anos de idade, com Jeanne Payel, uma das herdeiras mais ricas da Bretanha. O plano dá com os burros n’água e então tenta casar o neto com Béatrice de Rohan, sobrinha do duque da Bretanha. Mais uma vez falha. Em novembro de 1420 ele aumenta consideravelmente sua fortuna ao casar o neto com Catherine de Thouars da Bretanha, herdeira da La Vendée e de Poitou.

O casamento também favoreceu Gilles, que ascendeu socialmente às custas da fortuna da esposa, algo muito comum tanto durante a Idade Média quanto durante o Antigo Regime entre as classes nobres da sociedade europeia. Gilles passa a ser lord e cavaleiro na Bretanha, no Anjou e no Poitou, e aos 16 anos entra para a carreira militar, participando das negociações pela libertação de João VI, duque da Bretanha, então prisioneiro de guerra. Libertando o duque Gilles entra para as graças da alta nobreza bretã além de receber um generoso pagamento.

Em 1425 ele é admitido na corte do futuro Carlos VII, então herdeiro ao trono, e aprende as maneiras cortês ao estudar o delfim. Entre 1427 e 1435 Rais atua como comandante do exército real francês, onde ganhou fama por sua bravura e tenacidade. Em 1429 ele luta lado a lado com Joana D’Arc, personagem que tem um Drops para chamar de seu, lutando nas campanhas de Joana contra os ingleses e os burgúndios, estando inclusive com ela quando se iniciou o Cerco de Orleans. Em 17 de julho de 1429 é escolhido como um dos portadores da Santa Ampola durante a coroação de Carlos VII e é escolhido como Marechal da França, o máximo posto militar da França.

Em 1434 ele começa a se afastar da vida militar e passa a tenta buscar seu sonho de vida: construir a Capela dos Santos Inocentes, que ele mesmo havia desenhado, e a encenação da extravagante peça Le Mistère du Siège d’Órleans. Com isso passa a gastar toda sua fortuna e quase entra em falência.

É aqui que a vida de Gilles começa a se aproximar do bizarro e do oculto…

Iluminura Le procès de Gilles de Rais, Anônimo (Século 17), Bibliothèque Nationale de France, Paris, França

Quebrado, afastado da corte e sem atingir seus sonhos, Gilles de Rais vira a sua atenção para a alquimia, assunto muito em voga durante o séculos 14 e 15. Logo ele se interessa, alegadamente, pelo satanismo, em uma tentativa de ganhar fortuna sabedoria e poder.

Em setembro de 1440 é preso e levado a julgamento em Nantes, centro político da Bretanha. É julgado por dois tribunais separados: primeiro por um eclesiástico e depois um civil. O primeiro foi presidido pelo bispo de Nantes, Gilles não reconhece o tribunal e se recusa a pleitear as acusações, ameaçado com a excomunhão ele reconhece a autoridade do tribunal e se declara inocente das acusações.

Iluminura Exécution de Gilles de Rais (gibet et bûcher). Armes du président Bouhier, Anônimo (1530c.), Bibliothèque Nationale de France, Paris, França

Ele então é acusado pela Igreja de heresia e feitiçaria, o primeiro caso na história da Inquisição, e pelo duque da Bretanha ele é condenado pelos sequestros e pelos assassinatos de aproximadamente 140 crianças. É bom pontuar que ambas as condenações foram baseadas na confissão de Gilles, obtida por meio de tortura, uma das inúmeras irregularidades no julgamento do nobre do Anjou.

Condenado a morrer pela forca, dizem que ele aceita a condenação e se resigna de seus atos, acaba por ser executado em Nantes no dia 26 de outubro de 1440. A sua resignação e aceitação de pena, tudo supostamente, são considerados pela Inquisição como exemplo de penitência cristã.

Gilles de Rais supostamente inspirou o conto folclórico francês Barbe bleue, o Barba Azul, um homem que seduz, casa e assassina uma série de esposas. A versão mais antiga do conto a chegar aos nossos dias é a de Charles Perrault, publicação datada de 1697. Em inglês, segundo o dicionário Merriam-Webster, existe o verbo bluebearding, que pode ser traduzido como o ato de seduzir e abandonar uma série de mulheres.

Nobre, cavaleiro, militar brilhante, excêntrico, ocultista, assassino de crianças, tantos são os epítetos que podem ser aplicados a Gilles de Rais. Sua história encontra hoje certa notoriedade entre os fãs de serial killers, afinal ele é considerado um dos mais antigos que se tem notícia, assim como entre aqueles que buscam os estudos ocultistas. A sua verdadeira essência porém não saberemos ao certo, pois as nuvens da intolerância e da ganância a encobrem.

Ilustração sem título retirada do livro Old-Times Stories, W. Heath Robinson (1921), Dodd, Mead & Company, Nova York, EUA

Contato: medievalissimo@gmail.com

  • Texto: Bruno Rosa
  • Edição de Áudio: Bruno Rosa
  • Capa: Bruno Rosa

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