Cavaleiro, Político, Santo
Você também pode ouvir esse drops no miniplayer abaixo e nos apps de podcasts
Você também pode ouvir o episódio no Apple Podcasts, Spotify, Google Podcasts, Castbox e no Deezer além de demais agregadores de podcasts. Você também pode baixar o episódio clicando aqui
Assine: Apple Podcasts | Spotify | Google Podcasts | Castbox | Deezer | Android | RSS

Nascido de uma família nobre de origem normanda, o que garantia certos privilégios na Inglaterra dos Plantagenetas, Thomas Becket foi um misto de cavaleiro, político e homem santo. Cavaleiro por sua origem, político pela sua vida e homem santo com sua morte. Veio ao mundo em Cheapside, uma tradicional rua de Londres, em 21 de dezembro de 1119, ou 1120, as fontes divergem sobre a precisão do ano, Becket foi uma personalidade muito distinta dentro da história da Inglaterra no século 12.
Foi devido ao costume de enviar os filhos da nobreza para uma outra casa a fim de ser educado por lá que Becket teve uma educação para se tornar um jovem cavaleiro. Um pequeno aparte: esse costume, juntamente com o casamento de descendentes ainda pueris, era uma forma de garantir a paz e a ordem dentro dos domínios senhoriais. Feito esse detalhamento, sigamos.
Na casa de Richer de L’Aigle aprendeu a cavalgar, caçar, a cortesia, a etiqueta, além de aprender a competir em justas e torneios, eventos extremamente populares entre a nobreza da ilha nesse período. Paralelamente a isso, desde os 10 anos, Thomas Becket também se educou na lei canônica, primeiramente em Merton, um pequeno priorado inglês, e depois foi estudar em Paris, Bolonha e Auxerre.
Quando retorna para a corte, por conta de sua educação e seu status social, acabou entrando para o serviço de Teobaldo de Bec, então arcebispo de Canterbury, ocupando o cargo de arcediacono, posto que lhe ofertou diversas missões eclesiásticas e diplomáticas para Roma, além da reitoria da escola em Beverley. Por conta de sua eficiência se tornou destacado e foi indicado por Teobaldo para Henrique II, rei da Inglaterra, como seu chanceler, cargo equivalente ao de primeiro ministro contemporâneo. Nomeado, ocupou o cargo entre 1155 e 1162.

Um dos principais conflitos do século 12 se deu por conta da influência do poder real nas terras da Igreja e vice-versa, nesse sentido, Henrique II, esposo de Eleonor de Aquitânia e pai de Henrique, o Jovem, Ricardo Coração de Leão e João Sem-Terra, não foge muito à regra: era seu desejo se apoderar territorialmente e economicamente das terras pertencentes à Roma na ilha. Enquanto chanceler, Thomas Becket não fez nada para impedir esse movimento, ao contrário, apoiou o monarca ao ponto de cobrar o imposto de proteção do reino nas terras eclesiásticas, tradição pouco comum à época. Por conta de sua vassalagem e aliança com a coroa Thomas Becket recebeu duas recompensas de Henrique II: foi nomeado arcebispo de Canterbury, cargo que ocupou de maio de 1162 a dezembro de 1170, quando do seu assassinato, e foi designado como preceptor do príncipe herdeiro, Henrique, o Jovem.
Aqui a narrativa sobre a vida dele começa a divergir, tanto entre hagiógrafos, cronistas e historiadores do período: Thomas Becket passa a adotar um estilo de vida muito mais simples e humilde, praticando uma ascese que era comum nas ordens mendicantes. A divergência se dá por conta das razões que levaram Becket a adotar esse estilo de vida, alguns acreditam que ele teve uma verdadeira experiência religioso que o levou a adotar essa vida, enquanto outros acreditam que ele adotou esse estilo apenas como forma de se beneficiar politicamente dentro da Igreja. A verdade, de fato, é disputada desde então, e não cabe a nós fazer esse tipo de julgamento, e sim analisar os fatos.
Por conta dessa guinada na vida Thomas Becket acaba por se afastar de Henrique II, que acreditava obter maior poder e influência por conta da nomeação. Esse afastamento levou a uma série de conflitos legais em cortes civis sobre os privilégios da Igreja na Inglaterra. Essas cortes não eram reconhecidas pela Igreja, que detinha o monopólio da salvação e sempre podia jogar a carta da interdição e excomunhão. Como o conflito não avançava para uma solução, Henrique II convoca os bispos para um reunião em Westminster e dessa reunião ficou decidido que iria ser convocado um amplo debate para decidir afinal sobre os privilégios reais e da Igreja.

Em 30 de janeiro de 1164 a assembleia se reúne no Palácio de Clarendon, em Wiltshire, sudoeste inglês, e Henrique II apresenta 16 constituições – conjuntos de leis na tradição medieval – que tinham como objetivo diminuir a independência da Igreja, além de afastar Roma da influência política interna da Inglaterra. O monarca consegue o apoio de todos bispos e barões, porém, mesmo obrigado, Thomas Becket se recusa a assinar o documento. Sofre então ameaças de perseguições legais tanto para sua Igreja quanto pessoais. Sem opções políticas e jurídicas, Becket resolve então fugir da Inglaterra e parte para a corte do rival de Henrique, o rei francês Luís VII.
Sob proteção da coroa francesa, Becket passou sua estadia em França em uma abadia cisterciense em Pontigny e em Sens. E por lá também passa a travar uma disputa epistolar pelo apoio do papa Alexandre III, a quem pedia a excomunhão de Henrique II e a interdição da Inglaterra – a interdição é o equivalente à excomunhão de todo um território e seus súditos.
A princípio o papa optara por uma abordagem mais diplomática na base do diálogo, porém isso muda com a coroação de Henrique, o Jovem, que aconteceu mesmo com o arcebispo de Canterbury – o maior cargo eclesiástico na Igreja inglesa – no exílio. O papa então ameaça oficialmente a coroa inglesa de excomunhão e interdição, o que na prática levaria a Inglaterra poder ser atacada por qualquer reino ligado à Roma devido a ideia de Guerra Justa.
Para evitar tal desdobramento Henrique II se reconcilia com Thomas Becket e o convida para retornar para Inglaterra onde ele iria re-coroar o príncipe herdeiro. Becket aceita a proposta e sela seu destino…
Quando aporta em Kent, sudeste inglês, Becket excomunga todos bispos envolvidos na coroação de Henrique, o Jovem, o que teria levado seu pai a dizer:“Não haverá ninguém capaz de me livrar deste padre turbulento?”. Tal frase foi interpretada por alguns barões como um comando real para assassinar o arcebispo. Reginald FitzUrse, Hugh de Morville, William de Tracy e Richard le Breton partiram para Canterbury e depois de um conflito com alguns monges e o próprio Becket acabaram por matar o arcebispo.

A morte de Thomas Becket foi um verdadeiro terremoto político na Inglaterra, Henrique II temendo a excomunhão se penitencia no túmulo de Becket, seus assassinos são condenados pelo papa a servir como cavaleiros de Cristo durante 14 anos, os filhos de Henrique II junto com Eleanor de Aquitânia se rebelam contra ele.
Thomas Becket então passa para o campo do sagrado e se torna um mártir, sendo venerado por toda cristandade romana, é canonizado apenas dois anos de sua morte e ainda é considerado um exemplo de vida e dedicação à fé, ao ponto de ser venerado tanto pelas tradições católica e anglicana, além de ter se tornado um tema da cultura popular inglesa, sendo retratado na literatura, no cinema e na dramaturgia.
Contato: medievalissimo@gmail.com

Conheça nossa campanha de financiamento contínuo
Entre em https://www.padrim.com.br/cliopodcasts e ajude a partir de R$ 1,00 mensais a manter esse projeto no ar e produzindo cada vez mais conteúdo acessível para todas e todos.


Você também pode nos financiar via PicPay! Se você tem um cashback sobre então porque não apoiar um projeto de comunicação e educação histórica.
Procura a gente lá em https://app.picpay.com/user/cliohistoriaeliteratura