Raimundo Lúlio

Filósofo, Místico, Teólogo, Matemático

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A data de nascimento de Raimundo Lúlio é incerta, sabe-se que ele nasceu em cerca de 1232 em Palma de Maiorca, na época conhecida como Ciudad de Majorca, capital do reino de Maiorca, reino vassalo de Aragão, ou seja, de forte influência catalã. Oriundo de uma rica e influente família que fora enviada para Palma a fim de tomar parte na colonização cristã das ilhas Baleares, à época elas tinham uma população majoritariamente árabe e muçulmana.

A conquista e colonização das ilhas Baleares consolidou a influência aragã no Mediterrâneo, além de fornecer um entreposto comercial estratégico tanto para os aragoneses quanto para as cidades mercantis italianas, notoriamente Gênova por conta de sua proximidade geográfica com o arquipélago.

Ilustração de Raimundo Lúlio, datada do século 17, de autoria anônima

Constituiu família casando-se com Blanca Picany, sobre quem os documentos são mudos, tendo dois filhos, Domenéc e Magdalena, porém Lúlio descreveria posteriormente essa parte de sua vida como vazia e frívola, afinal, apesar de casado, ele vivia a vida de um trovador na corte de Jaime II de Aragão. Antes de seu êxtase religioso, Lúlio também atuou como senescal – o equivalente mediterrâneo ao mordomo franco (tradução de major domus em latim), ou seja, o chefe administrativo – do rei Jaime II de Maiorca, que viria a ser familiar de sua esposa.

Lúlio é considerado o fundador da língua catalã moderna, nos mesmo moldes que Dante é o fundador do italiano, por conta de seu roman Blanquerna, publicado em 1270, e possivelmente o primeiro romance europeu de que se tem notícia.

A vida e a obra religiosa, porém, é o grande destaque na biografia de Raimundo Lúlio, em 1263 ele teve uma epifania e se tornou extremamente religioso, como é contado por ele mesmo em sua Vita Coaetanea. Lúlio entra então para a Ordem Terceira dos Franciscanos e passou o restante de sua vida refletindo sobre as palavras de Cristo e em peregrinação evangelizadora – leia-se a conversão de muçulmanos e judeus ao cristianismo.

Ilustração presente no manuscrito **A Vida de Raimundo Lúli**o, datado do século 14, depositado na Badische Landesbibliothek, Cod. St. Peter perg. 92, fol. 1v.

A obra mais conhecida de Lúlio é, sem dúvida, a sua Ars Magna, onde o místico mistura pensamentos religiosos e filosóficos para criar um sistema lógico e racional de debate e pensamento. Em Ars Magna estão presentes os conceitos base daquilo que veio a ser conhecido como lullismo: uma doutrina mística e filosófica que tem como pressuposto que todo saber, seja ele material ou espiritual, pode ser decifrado a partir da manipulação das letras do alfabeto. O lulismo se codifica com forte influência da kabbalah, uma espécie de misticismo judaico rabínico, e da zairja, espécie de astrologia medieval árabe.

Apesar de embebido de alto teor místico, a obra de Raimundo Lúlio teria forte impacto sobre os lógicos e matemáticos vindouros, como por exemplo Gottfried Leibniz e Giordano Bruno. O lullismo seria em última instância uma forma aprimorada de retórica e lógica, onde os argumentos de um debatedor eram desmontandos e remontados apresentando-se como uma ferramenta de cotejo retórico.

Ilustração presente em uma edição catalã de *Arbe de Ciència* datada de 1505

É justamente essa obra, por suas aproximações com o islamismo e judaísmo, que Lúlio se tornou uma figura controversa na comunidade católica, gerando debates acalorados se ele seria um santo ou um herético. O pensador até hoje, mesmo com seu impacto no pensamento católico medieval e posterior, não foi canonizado – existe um processo de canonização aberto desde os tempos do rei Filipe II de Espanha, que, paradoxalmente também patrocinou a proibição de suas obras através da Inquisição, alegando que ela seria muito perigosa para não iniciados. Raimundo Lúlio foi beatificado em 1874, por Pio IX, e a Ordem Terceira dos Franciscanos celebra o seu dia anualmente em 30 de Junho.

Filósofo, matemático, lógico, místico, apologético, exegético, polímata, não faltam predicados para Raimundo Lúlio, que morreria há 705 anos, no dia 29 de junho de 1315, a data precisa é objeto de debate, como a ironia não nos deixa livre. Sua morte se deu a bordo de um navio genovês a caminho de Palma de Maiorca, após apanhar Lúlio na costa do Norte da África onde ele havia sido apedrejado por muçulmanos em Túnis tentando converter o governante local ao cristianismo, tudo por conta de uma informação falsa dada aos reis de Aragão e Sicília, os quais enviaram Lúlio para a região.

Óleo sobre tela *Ramon Llull*, 1620 (c), Francisco Ribalta, depositado no Museu Nacional d’Art de Catalunya

Contato: medievalissimo@gmail.com

Texto: Bruno Rosa
Edição de Áudio: Bruno Rosa
Capa: Bruno Rosa

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