Parasita (Clio Indica)

Parasita é um complexo retrato da sociedade sul-coreana em todas as suas contradições, contado com atuações impecáveis, ao estilo sul-coreano – que lhe rendeu algumas crítica no mínimo orientalistas sobre alguns momentos mais escrachados do filme, o humor e a as expressões dos atores e atrizes. Um filme que desperta múltiplas sensações, indo comédia leve e inteligente ao drama e suspense, versatilidade essa que só enriquece a narrativa.

O mais importante é que Parasita foge aos clichês e maniqueísmos típicos ao retratar a luta de classes e seus agentes. Os arquétipos de vilões e mocinhos não existem, o que não dilui o discurso num “humanismo” tosco ou redundâncias sobre natureza humana. Podemos ver nas ações de todos os envolvidos como a sociedade de classes, em especial a sociabilidade capitalista, consegue degenerar os indivíduos, os fazendo tomar ações eticamente questionáveis, individualistas e antissociais. A luta de todos contra todos é um fio condutor da história, que é representada magistralmente pelas ações da família de Ki-taek quando não se furta em prejudicar os indivíduos da mesma classe para garantir sua própria subsistência. Reafirma que a solidariedade de classe não existe por si mesma, emerge quando construída e politizada, que mesmo os trabalhadores mais pauperizados podem agir em detrimento dos seus iguais.

A família burguesa à primeira vista não é repulsiva e não conseguimos ver as representações clássicas do capitalista gordo, maquiavélico e cruel. Os Park de início passam a imagem de uma família de estável, nuclear, que se preocupa com a educação e o bem-estar dos filhos, que trata de maneira humana os trabalhadores da casa de até estabelece certas relações “familiares” com os mesmos. Com o desenrolar da trama todo o classismo começa a escapar de maneira sutil e chega ao seu ápice com a reprodução de estereótipos dos trabalhadores.

O filme nos faz pensar sobre quem são os verdadeiros parasitas da sociedade burguesa. Isto fica claro quando os Park demitem sua fiel governanta e se dão conta não sabem executar tarefas domésticas simples, lembrando crianças que não possuem nenhuma autonomia. Os “parasitas” que  são retratados de forma mais clara no filme, na verdade foram e são parasitados por gerações, os que os levaram a condição de parasitas de migalhas da riqueza socialmente produzida, enquanto as grande solitárias desse sistema social são modelos a serem seguidos, através da construção ideológica dominante. O desfecho deixa claro que luta de classes é cruenta e que os indivíduos farão de tudo para manter suas posições, que a vida dos trabalhadores é descartável e que há um grande exército de reversa para substituir as peças.

Parasita traz à tona uma face da sociedade sul-coreana que fica escamoteada pela mídia comercial, que retrata o país como um grande polo industrial de tecnologia de ponta, K-pop, Iphones, e democracia liberal funcionando a pleno vigor, em contraposição a Coreia Popular e sua “ditadura imperial”. Os porões onde milhões de sul-coreanos sobrevivem geralmente são bem menores que os da família Ki-taek, há perseguição de militantes e até cassação de partidos que defendem a reunificação das coreias, os empresários e os fantoches dos norte-americanos controlam o país desde a Revolução da Coreia Popular e leis militares são usadas pra reprimir manifestações. O filme de 2019 recebeu premiações em quatro categorias do Oscar: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Original. O diretor Bong Joon-ho já trabalhou em Hollywood e possui filmes aclamados tratando de temáticas sociais, como Expresso do Amanhã e Okja.


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