Mitologias (Roland Barthes) | Clio Indica

A semiótica e a pequena-burguesia no pós-guerra francesa

Qual significado de um mito? O mito é um discurso, um instrumento de dominação por parte da hegemonia política e econômica? Existe uma mitologia nos nossos dias? Essas são, algumas, das perguntas que servem de ponto inicial para as reflexões e investigações do sociólogo e crítico literário francês Roland Barthes em sua compilação de ensaios Mitologias, lançado em 1957. Esses textos foram publicados originalmente de forma bimestral para a revista Les Lettres Nouvelles, ou seja, Barthes estava buscando um público mais geral do que aqueles que se encerram nos muros acadêmicos.

Roland Barthes fotografado por Julian Guindeau

Nessa coletânea, Barthes se debruça sobre como o mito funciona e se constitui nos nossos dias, para fazer tal exercício ele se utiliza de métodos semióticos de análise, dessa forma suas reflexões têm como instrumento o significado e o sentido das imagens construídas pelas mais diversas mídias para os mais diversos fins. Dessa forma são analisadas desde a mecânica das lutas de catch, conhecido no Brasil como luta-livre, ou em inglês como professional wrestling, passando pelo cinema, por capas de revistas, propagandas de sabão em pó e até o uso da imagem do cérebro de Albert Einstein.

Para Barthes os mitos têm “vida própria”, sendo significado e ressignificado de acordo com os usos que a eles são atribuídos. Ou seja, um mito pode nascer com um sentido ser utilizado, reutilizado e ressignificado, independente daquele de quem o produz. Uma boa forma para a gente entender essa ideia podemos citar o uso da imagem de algum revolucionário leninista-marxista que tem como objetivo destruir o capitalismo por alguma marca que queira se vender e se significar como rebelde, solidificando assim sua posição dentro do próprio sistema capitalista.  Ou seja, a ideia original, a luta anticapitalista, em nada tem a ver com o sentido dado pela marca para os seus produtos. Mas qual sentido do mito está correto? Para Barthes, ambos, afinal o sentido e significado de um mito, de uma mitologia, se dá por aquele quem utiliza desse discurso.

A luta-livre, também conhecida como telecatch, e mais modernamente como professional wrestling, é alvo de um dos ensaios de Mitologias.

Mitologias talvez não seja o melhor livro introdutório para o pensamento de Barthes, pois aqui temos uma reflexão ampla e profunda que parte de alguns pressupostos já lançados pelo autor em livros anteriores, esse papel de propedêutica talvez caiba melhor a Crítica e Verdade e O Prazer do Texto, porém é um texto instigante e que tira o leitor de seu lugar de conforto, obrigando a refletir sobre a retórica que imagens e letras usadas de forma massiva possuem, e para quais usos. Um texto importante e fundamental para se interpretar de forma moderna a literatura, o cinema, e outras formas retóricas.


FICHA TÉCNICA

Nome: Mitologias
Autor: Roland Barthes
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 258 pp.
Peso: 880g

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