História Oficial (La Historia Oficial) é um filme argentino de 1985, dirigido por Luis Puenzo. A personagem principal é Alicia, interpretada por Norma Aleandro, professora de História do ensino Médio. Casada com um militar, eles tem uma criança adotada chamada Gaby, trazida pelo marido Roberto (Héctor Alterio) quando ela ainda era recém-nascida. Ele contou para Alícia que a mãe biológica morrera no parto. Alícia frequenta o mesmo ciclo social de seu marido, convivendo com pessoas mais conservadoras. O desfecho do longa começa quando amiga de Alícia, Ana, retorna do exílio e relata inúmeras atrocidades cometidas contra ela pelos militares e outros tantos praticados contra seus colegas. Vemos nesse momento que Alícia tem uma certa resistência a acreditar na fala de Ana, mas começa a desconfiar de todo o regime militar.
O contexto do filme se passa no ano de sua produção, então os personagens estão ambientados com o início da redemocratização. Alícia passa a investigar o que realmente aconteceu durante a Ditadura, fazendo-se compreender o processo de apagamento dessa história pela parte dos militares, principalmente por levar em conta que Roberto é militar e nunca foi aberto e sincero com Alícia. Ele sempre se desvencilhava dos questionamentos dela, alimentando sua desconfiança. Chegando ao final do filme, Alícia é procurada por uma mulher que estava na manifestação Mães da Praça de Maio, atos realizadas por mulheres que perderam seus filhos no período militar. Esta, então, lhe informa sobre o desaparecimento de sua filha grávida, perseguida pelos militares, de quem nunca mais teve notícias. A mesma alega acreditar que Gaby é sua neta. Após essa confissão e mais atitudes suspeitas de Roberto, Alícia passa a procurar hospitais para compreender a verdadeira história de Gaby, e acaba descobrindo que Gaby era realmente filha biológica da moça desaparecida, e Roberto estava por trás de tudo isso.
O cerne do filme é entender o processo cruel da ditadura e, principalmente, como os militares lidam com isso. Militares e autoridades conservadores e totalitárias procuram sempre invisibilizar toda sua truculência. Não temos noção de quantos documentos militares são inacessíveis e quanto se perderam. Roberto atuou como militar no período ditatorial, estava por trás de inúmeras torturas e de pessoas desaparecidas, e sua esposa foi descobrindo isso por conta própria e por relato de terceiros. Ele, como todos os militares, enxergam a memória como algo perigoso. Ela traz à luz toda a violência praticada por eles, e quando usamos dessa memória através do trabalho historiográfico, levantamos toda a problemática e violação praticada e exercida por seus figurantes. Apesar de eu, particularmente, questionar como uma professora de história estava tão à parte desse regime tão truculento, sendo ela contemporânea a ele, o filme elucida muito bem como foi a ditadura na Argentina. O espectador se envolve muito com o processo investigativo de Alícia, gerando um clima de tensão o filme inteiro. Ir descobrindo aos poucos gera um grande impacto com o final do filme.
