Uma visada sobre o feminino medieval
A historiografia francesa durante o século 20 foi responsável por grandes e importantes mudanças metodológicas para a História. O rol de historiadores que contribuíram para isso é enorme, passando por Marc Bloch e Fernand Braudel, passando por Jacques Le Goff e Georges Duby.
Esse último, dedicou a sua carreira profissional, tanto como professor quanto como pesquisador, a buscar entender o papel das coisas “simples” da vida para a contribuição do processo histórico. Basta lembrar que ele foi o responsável por organizar a coleção História da Vida Privada, lançada no Brasil pela Companhia das Letras (você pode comprar essa coleção com desconto na Amazon clicando aqui).
Duby e Le Goff se debruçaram na Idade Média, muito para tentar derrubar alguns mitos criados tanto pela historiografia romântica quanto positivista do século 19 sobre a formação do estado francês. Essas duas correntes historiográfica, por sinal, moldaram um dos cotejos basais do medievalismo, presente até o presente, o bom e velho duelo entre detratores e apologistas do medievo.
Em As Damas do Século XII, Duby utiliza de fontes documentais e fonte literária para traçar um painel sobre o papel da mulher na vida das cortes flamengas, francesas e inglesas durante o século 11. O livro, na verdade uma coletânea de três ensaios distintos, traz uma abordagem interessante: o quanto o mundo masculino, representado basicamente pelo alto clero católico e pelo poder militar dos senhores feudais, temia e mistificava o mundo feminino. Os exemplos devassados de Eleonor de Aquitânia, de Isolda e de Heloísa são fascinantes.
Duby nos alerta para a falta das mulheres falarem sobre as mulheres, e como algumas das imagens que estão vivas no imaginário coletivo sobre a época, como o amor cortês, são dedicadas única e exclusivamente para silenciar a mulher e fazê-la aceitar a dominação imposta para as “damas” pelos senhores do poder. Uma abordagem interessante, inclusive, é o fato da memória e da história exclusivamente das mulheres da alta sociedade terem sido preservadas. Por que esse discurso? A quem interessa? Para Duby, tudo isso é traço da formação da sociedade francesa e europeia, ou seja, forjada no coração de uma religiosidade exacerbada e misógina.
Utilizando uma linguagem simples e acessível ao público em geral, As Damas do Século XII agrada tanto ao acadêmico quanto ao curioso, não deixa de apresentar um rigor metodológico, porém ao mesmo tempo é muito bem escrito e, até certo ponto, divertido de se ler.

Nome: As Damas do Século XII
Autor: Georges Duby
Editora: Companhia de Bolso
Páginas: 384 pp.
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