Sobre a autora
Júlia Valentim da Silveira Lopes de Almeida era carioca e viveu e morreu nesta cidade entre os anos de 1862 e 1934. Era filha de emigrados portugueses, sendo seu pai um médico. Ela foi uma escritora, cronista, teatróloga e abolicionista brasileira. Segundo a sinopse sobre ela no site da amazon kindle, “foi uma das escritoras mais ativas e mais lidas de seu tempo, mas, como muitas outras, passou por um processo de apagamento histórico que ainda não foi de todo reparado”.
Sobre o livro
ele é um e-book, possui 10 MB e seu modo de acesso é a world wide web. Tem 42 capítulos, curtos e antecede uma nota à edição e finaliza com o posfácio sobre a Julia Lopes, de Rafael Balseiro Zin. A diagramação toda está muito boa. Esta obra tem mais de 130 anos e foi escrita entre 1886 e 1888, um ano antes da abolição da escravatura se oficializar. Foi editado pela primeira vez pela editora Fluminense.
Resenha
Primeiro uma curiosidade, esta obra não nasceu como um livro e sim em um jornal, o Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro. Só depois que todos os fascículos, digamos, foram entregues e houve um grande sucesso de crítica e de público se remodelou em um romance. No jornal, como folhetim, ele foi distribuído em três meses do ano de 1891, de outubro a dezembro. Era uma estratégia dos jornais, na época, trazerem literatura desta forma, mantendo o interesse da população leitora na continuidade e fidelidade em comprar seus periódicos.
Esta obra foi lida no formato digital, no Kindle precisamente. As edições da Carambaia costumam ser bem boas e exclusivas, as versões impressas se nota bem mais este detalhe. Mas, em e-book, a obra está muito boa, tem a divisão por capítulos, ao final traz bastante detalhamento sobre a trajetória da autora e a pertinência e atualidade do tema do romance, a partir do olhar do sociólogo especialista em escritoras no século 19, Rafael Balseiro Zin.
A história gira em torno da família Medeiros, como prenuncia o título, mas também tem vários personagens que representam outros nichos familiares ricos na trama, no interior de São Paulo. É muito boa a escrita de Júlia. Ela te prende bastante. Um detalhe importante é que durante toda a história de Otávio e Eva, os primos Medeiros, temos a presença em cenas das mais fortuitas até as mais destacadas, das pessoas escravizadas. A sutileza da autora é muito bem construída e vai nos aproximando das senzalas ao mesmo tempo que tem todo um detalhamento sobre os ideais abolicionistas entre as personagens que representam a elite branca. É um debate, no final das contas, entre uma geração que não vê outra forma de subsistir em sua riqueza que não seja pela exploração dos corpos e força de trabalho negros e a outra que já vê mais sentido em um modo de produção com a exploração do trabalho livre, a partir do colonato, lançando mão dos imigrantes, sobretudo italianos. Há muito o que aprendermos com esta obra sobre a história do Brasil. E o melhor, através da literatura feita por uma abolicionista.
Para saber mais
Sobre a autora: https://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlia_Lopes_de_Almeida
Para ler a obra original gratuitamente: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/6776
Acesso a 16 obras de Julia de Almeida: https://digital.bbm.usp.br/browse?type=author&value=Almeida%2C+J%C3%BAlia+Lopes+de%2C+1862-1934
Referência
Almeida, Júlia Lopes de. A Família Medeiros [recurso eletrônico]. São Paulo: Ed. Carambaia, 2021. 10 MB.
Clio: História e Literatura 