Sobre a autora

É uma escritora moçambicana, criada na periferia da capital do país, Maputo. Ela tem premiações importantes, inclusive, em 2003 o prêmio português José Craveirinha de Literatura, pela obra Niketche. Ela é, segundo a BBC, uma das 100 mulheres mais inspiradoras do mundo (2023). Chiziane tem publicadas mais de 10 obras e é a primeira mulher a publicar literatura em seu país.
Sobre o livro
ele é um e-book, possui 2113 KB e seu modo de acesso é a world wide web. A obra tem 345 páginas, 43 capítulos e um glossário. Eles variam de tamanho e não possuem títulos. Leitura obrigatória dos vestibulares da UNEB, UEL, UFRGS e Unicentro.

Resenha
Nós, mulheres, fazemos existir, mas não existimos. Fazemos viver, mas não vivemos. Fazemos nascer, mas não nascemos.
(p. 272-73)
O livro de Chiziane é uma profunda oportunidade de aprendizado sobre as culturas em Moçambique, mas também é uma história mais ampla, pois é a mostra do patriarcado e dos efeitos da colonização de forma muito forte. A obra já tem uma narrativa bem próxima a quem a lê, porque ela escreve em primeira pessoa, você pode ir com ela em seus pensamentos mais íntimos, assim como seus atos mais públicos naquela comunidade. Ao mesmo tempo, nossa personagem principal, Rami, se constrói como uma mulher de força, sofrimento, angústia e libertação, porque ela consegue usar elementos de ambas as culturas a favor de um espaço autônomo para si e para as outras mulheres que estão entrelaçadas a ela.
Sou de um povo cantador. Nesta terra canta-se na alegria e na dor. A vida é um grande canto. Canto e choro. Delicio-me com as lágrimas que correm com sabor a sal, com o maior prazer do mundo. Ah, mas como me liberta esse choro!
(p.10)
Podemos aprender tantas facetas sobre o patriarcado, o machismo (entre homens e mulheres), a heteronormatividade e das crenças espirituais nesse sociedade que Niketche nos apresenta que vale muito a leitura. Há a possibilidade de aprender sobre a diversidade cultural moçambicana, a partir das mulheres, bem como as formas da tradição colonialista europeia que convivem com as normativas brancas e cristocêntricas. A ideia de uma capital avançada porque católica ou cristã, com a legalidade e seus códigos imitados dos opressores brancos aparece claramente na obra.
As mulheres são um mundo de silêncio e segredo.
(p.181)
Em uma sociedade como a brasileira, que tem um perfil progressista liberal, os feminismos e suas lutas aparecem em novelas, nas redes sociais, nas campanhas publicitárias. E num debate muito superficial, com exceções, podemos perceber que os corpos femininos aparecem, suas vozes são ouvidas na política, nos noticiários e nas propagandas como prova de que há espaço igualitário para a presença das mulheres em todas as áreas. É claro que isso é uma construção política e capitalista para que tenhamos a sensação de que algo está sendo feito. Mas, sabemos que a história de Niketche, a dança do amor, está mais próxima de nossa realidade nacional do que gostaríamos. As mulheres e seus lugares de cuidadoras, amas de casa, da manutenção do patriarcado segue sendo a máxima para que o sistema tenha sua sustentação no mundo.
Mas porque foram embora nossos maridos, porque nos abandonam depois de muitos anos de convivência? Porque nos largam como trouxas, como fardos, para perseguir novas primaveras e novas paixões?
(p.09)
Esta obra traz sobre a subalternidade das mulheres, ou seja, é algo do hoje e do ontem, com várias coexistências e possibilidades de nos enxergarmos a partir da escrita incrível, sensível e impactante de Chiziane, que nos traz saberes que extrapolam os cânones ocidentais de literatura, ainda que dialogue com eles.
Mulher é a dor coletiva que cobre o mundo inteiro.
(p.213)
Para saber mais
Entrevista TV Senado: https://www.youtube.com/watch?v=4TiwnOtvgS4
Chiziane falando sobre o prêmio Camões à beira da fogueira: https://www.youtube.com/watch?v=2jG4BGhYpcQ

Referência
Chiziane, Paulina. Niketche. Uma história da poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.345p.