
Com uma escrita que brinca com o tempo, Carlos Fuentes se debruça sobre diversos
temas e episódios da Revolução Mexicana ao em “A Morte de Artêmio Cuz”. Na história, Artêmio de 71 anos está em seu leito de morte e relembra seu passado durante as diversas fases da Revolução Mexicana. De guerrilheiro para governista, pró-indígenas a espoliador, Artêmio lida com a consciência de seus atos e o julgamento de sua família.
A Revolução Mexicana não foi caracterizada pela disputa de apenas dois grupos por um projeto político final. A Revolução Mexicana, uma das primeiras na América espanhola, é também composta por diversos atores, elementos, projetos e lados. Artêmio vai, ao longo da obra, se deslocando por alguns desses lados, que conhecemos brevemente. O pensamento de Artêmio é como um reflexo do desenrolar da revolução. Em alguns diálogos é possível observar como é introduzido aos ideais da revolução, quais as pautas que defende e como seus objetivos vão mudando – menos por princípios e mais por vantagens.
O período do porfiriato no México foi marcado pelo aumento da exploração de indígenas e aprofundamento das desigualdades sociais. Os Planos de San Luis de Potosi e de Ayala escancaram as profundas reformas reivindicadas. E é na diversidade de pensamentos dentro do campo revolucionário (e em certo momento, do conservador) que Carlos Fuentes nos leva, mostrando o dia-a-dia de alguns desses personagens.
Assim como as rusgas dentro do pensamento revolucionário nos são apresentadas, dentro do espectro da elite vemos também como a política institucional (legal e não legalmente) também age. A presença constante de estadunidenses fazendo propostas, barganhas e acordos em torno da exploração das riquezas do país escancara os rumos que a política institucional do PRI (deixou de) trouxe do momento revolucionário.

Ainda assim, alguns dos ideais revolucionários estiveram presentes na Constituição Mexicana de 1917, especialmente os liberais. Seu artigo 5o, por exemplo: “Nadie podrá ser obligado a prestar trabajos personales sin la justa retribución y sin su pleno consentimiento, salvo el trabajo impuesto como pena por la autoridad judicial […]”. Mesmo com os ideais liberais tendo mais peso, as frações revolucionárias – marxistas ou anarcossindicalistas – também tiveram seu papel na nova política. A distribuição de terras e proteção a operários, por exemplo, foi reivindicação garantida por estes setores.
Artemio Cruz, assim como a Revolução Mexicana, foram apresentados ao mundo como entes próprios com pensamentos conflitantes, jornadas contraditórias e presença dos mais diversos atores. Iniciando com ideais revolucionários, inspiração marxista e objetivos em prol dos desgarrados, se modifica, pacifica, e ao fim, termina como uma traidora de seus ideais primários. Mas não o faz se tornando exatamente o que combatia: se torna uma versão amarga e conformada de quem se estabeleceu e desiste de continuar perseguindo seus objetivos.
Para os amantes de literatura latino-americana, história latina e revoluções, A Morte de Artêmio Cruz deve ser obra obrigatória. Que a Revolução Mexicana não deixe de ser lembrada como a primeira a trazer debates e ideais socialistas no Novo Mundo.
Indicações de leitura sobre Revolução Mexicana:
Anna Maria Martinez Corrêa. A Revolução Mexicana (1910-1917). 1983
Arnaldo Córdova. La ideología de la Revolución Mexicana. 1984
Octavio Paz. O Labirinto da Solidão. 1984
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